Sem Palavras: 13 jan 2010 - 21h27

sexta-feira, janeiro 13, 2012


FIM
de          Laura Passing <laura.passing@gmail.com>
para       Brisa Marin <eusoubrisa@gmail.com>
data       13 de janeiro de 2010    21:27
assunto               FIM
enviado por       gmail.com

Minha amada Gabriela,
Sem Palavras já pode ser encerrado. E acho que você também entende assim. Afinal, temos muito a dizer uma pra outra e como nova história já vem se iniciando... espera-se, de uma mulher que fecha ciclos, o apoio para que o Capítulo III encontre seu fim.
Diante disso, se realmente for desejo seu, coloque nele um ponto (é nosso o conto!). De outra forma, eu o farei. Acho boa ideia que seja assim... É que o texto já traz muito de mim, porque nasceu no momento em que o meu desejo por você buscou vazão e cresceu explodindo de felicidade lancinante quando você soube que também me queria e me queria como eu sou. Agora empreste a ele a sua intensidade, sua completude, sua beleza e esse jeito tão próprio de ver o mundo e de viver (muito).
Conheça hoje minha proposta para o Capítulo IV.
Te quero muito. Me encontre amanhã.
Lina


Sem Palavras

Capítulo IV

A figura ideal encontrei num giro de meia circunferência. Um triângulo pontiagudo, agudo, estilizado. Cheio de nuances de sombras, era uma figura vermelha de três lados que abrigava uma outra figura bem no encontro de retas traçadas rigorosamente do centro dos vértices dos três ângulos.
No meio, era um tipo misterioso de flor que nunca ninguém viu. Parecia ainda uma borboleta metamorfoseada que bateria asas dali se eu tracejasse até mesmo 10 graus. Mas qualquer movimento seria impossível, hipnotizada pelo grande olho verde berilo que, formado na divisa dos espelhos, surgia dentro da flor de três pétalas – um gineceu. Azul, amarelo e transparente eram as minipétalas que pintavam cada pétala. Ao fundo, pingos lilases dançavam catatônicos espalhados no branco, desvanecidos da energia das suas cores originárias. Completando o cenário havia outras formas próprias da junção com os espelhos laterais, também avermelhadas, que só não eram quadradas porque curvavam-se ao encontro da figura protagonista. Seriam quadradas, não fossem devotadas.

Me canso e afasto o caleidoscópio. Volto a observar o quarto à procura de sinais. É uma daquelas segundas-feiras em que aguardo respostas e, dementemente, acredito que elas possam estar aqui e ali acenando pra mim. Resolvi não trabalhar hoje. Lá fora os quadros do dia se movem, imperceptivelmente, apenas a cada milésimo de segundo e, na pressa que tenho, prefiro o caleidoscópio girando para combinar soluções urgentíssimas de mistérios para mim. Prefiro retomar a busca entre as paisagens mais efêmeras.
Giro o caleidoscópio com fúria, as pedrinhas coloridas fogem de meu campo de visão e já não me ligo aos detalhes. Continuo construindo e destruindo, construindo e destruindo, construindo e destruindo universos cromáticos, agora sem muita dedicação. Juro que esperarei somente mais trinta segundos por um sinal. Minha promessa não oferece ameaças, o tempo acaba e nada providencio. Lamento então ter perdido a figura ideal.
Um rompante final de expectativa me instiga a procurar novamente aquela imagem deixada para trás nas voltas do caleidoscópio, num presságio inútil de reencontro com o amor consumado. Aceito o desafio das centenas de milhares de combinações e não duvido de que consiga recuperá-la, inclusive nas cores originais. Dispenso quaisquer condições que venham facilitar minha incumbência e bálsamos que possam distrair meu sacrifício. Espero apenas não injustiçá-la no momento em que se apresentar perto demais de meus olhos.
Mas pra quê?

Sei que nosso encontro está marcado, só não se sabe quando nem onde. Pode acontecer nos próximos dias, na travessia de uma rua, num desses fins de tarde. Ou nos próximos sete anos quando, despercebidas, teríamos dado trégua a nossos digladios num país distante, sensibilizadas por São Sebastião crivado. É para estar preparada que procuro sinais.
Agora as formas no caleidoscópio já se alternam mais belas – cada vez mais – e esqueço-me do combinado entre eu e mim. Admito que possa até ter deixado passar a imagem da figura que abriga a flor que abriga a borboleta que abriga o grande olho. As novas belezas são variadas e interessantes. Este é o sinal! Se os amantes haverão de se encontrar, é certo que não será hoje.


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