Volatilidade

domingo, setembro 04, 2011

O cajueiro colossal abraçava mortalmente o cárcere da Nega, como um cipó de quiçaça enroscado que, com o passar dos anos, aparenta estar em processo de fossilização. Quem via de fora a trama parasitando o edifício afirmaria categoricamente que era um caso surreal de sufocamento. Do lado de dentro, a dúvida, o delírio. 

Somente quando se sentia só, a Nega lamentava não ter escapado antes que aquela prisão se consumasse. Nos outros momentos considerava valentia a sua permanência. Inebriada pelo perfume que a alimentava no jejum de uma semana, mudava de ideia ao longo do dia, exercitando inconstância que trincava o chão que pisava, só não abalava seus sentimentos por Lilu. Românticas e tolas eram as razões da Nega na solitária consentida. Mas domingo era dia de fuga, na regência de setembro. 

Ansiava por liberdade para amar de forma expansiva, detonando uma bomba relógio, metáfora adequada para a Nega naqueles dias de aproximação consciente dos limites, que ela apreciava chamar de bordas. 

Intensa era sua atividade interna, catalisadora de expressiva circularidade própria da liquidez de sua natureza provocando calor e ebulição que, mantida por tempo prolongado, naquela noite deu escape à enclausurada em estado rarefeito.

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