Elementar

segunda-feira, setembro 05, 2011

A piração da Nega ao empreender fantástico escoamento era poder retornar ao estado que a impossibilitava de fugir enquanto corpo sólido. Uma solidez sempre pronta para o derretimento diante do belo era o corpo que abrigava a alma lacrimosa daquela mulher tão especial. Transitando por fronteira borrada, considerava-se mais um ser líquido, aproveitando o estímulo de Zygmunt Bauman, o sociólogo polonês que escreve poesia das mais lindas ao classificar a sociedade pós-moderna tão fluida quanto a água.

E a Nega era “das águas” disse Lilu um dia, porque, tão discreta, observava toda aquela correnteza ‒ algo próprio de Oxum. No zodíaco, a Nega não negava fogo e terra, sem provocar desarranjo no mapa astral somente para quem identifica a harmonia do caos.  

A ideia era circular curtindo a dispersão de um elemento gasoso, atravessando a malha do cajueiro arraigado no concreto que dava frutos sem apreciação. O que importava naquele voo era o voo. Toda a sedução do desfoque apresentava-se paupérrima.

O fato de ter avançado imensamente reduzia o feito da fuga e enaltecia o próximo passo, que poderia ser o retorno. Aquela Nega era impetuosa, apaixonada, segura de si, experimental, encantadora.

Nada daquilo era exatamente planejado, mas o ímpeto de trilhar o caminho de volta era uma certeza primária e não se discute com a certeza primária. Para tanto, um elemento gasoso precisaria manter coesão e conseguiria manter integridade volátil quando estivesse concentrado apenas. Trampo!   

Exercício dominado, o próximo passo seria a busca de ambiente propício para precipitação. Mistério ainda estaria por vir: a cristalização em busca de um sólido mais elaborado.
   

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2 comentários

  1. Toda uma alquimia de amor pra temperar elementos tão díspares e complementares! Mas construir pontes e temperar oposições é a tarefa de quem quer se sentir realmente mais pleno. Lindo texto!

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