A liquidez da memória

domingo, agosto 28, 2011

Intimamente relacionado com experiências individuais, o ato de rememorar é o mesmo que criar e recriar, à medida que nos distanciamos do fato, em suas cores mais vibrantes. Evocar o passado sempre será acessar os sentidos por meio de subjetivação e ressignificação de imagens, sentimentos que permaneceram registrados, por motivos diversos. 

Dizem os especialistas que a memória se manifesta nos limites do espaço e do tempo, no entanto, não se cristaliza, se mantém em movimento, fluida, flexível, atuando no presente para representar o passado sem reproduzi-lo. O que ocorre no momento de rememoração é muito mais uma interpretação da imagem, do texto, da emoção não esquecida, impactada pelo agora.

Pouca são as histórias inesquecíveis conservadas em detalhes e protegidas das variações da memória. O encontro de Nega e Lilu é uma dessas raridades, um registro precioso e cheio de minúcias que conduzirá as autoras ao passado numa base primária. Em outros estágios pode ser surpreendente o reencontro com palavras carregadas de sentido, imagens distorcidas pela cegueira, a transformação passional dos elementos de ficção originando enredos de fuga. Finalmente, a publicação do livro Nega Lilu permitirá, também para as autoras, o retorno contínuo a um ponto de partida seguro para novas interpretações. Que bonito isso.

Para o leitor comum ainda não sei como será.


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